Using community dialogues to prevent and control NTDs
By Eder Ismael
As Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) são reconhecidas como constituindo um sério obstáculo para o desenvolvimento socioeconómico e qualidade de vida, contribuindo para o agravamento da pobreza. Em Moçambique, as taxas de prevalência de DTN no país são extremamente elevadas; as Doenças Tropicais Negligenciadas mais comuns incluem a Schistosomiase (ou bilharziose), tracoma, parasitas intestinais, filaríase linfática e oncocercose. Campanhas massivas de tratamento foram implementadas nos últimos anos, mas até agora, os esforços para envolver as comunidades afectadas têm sido limitados.
A Malaria Consortium apoia a direção provincial de saúde de Nampula, no norte do país, na implementação duma abordagem de Dialogo Comunitário para aumentar a participação comunitária na prevenção e no controlo dessas doenças. A participação comunitária tem um papel essencial para identificação atempada de pacientes e promoção de práticas de prevenção, como a higiene e manuseamento da água. A abordagem dos diálogos comunitários (DC) é uma forma de mobilização social para melhorar conhecimentos, atitudes e práticas ao nível da comunidade e promover a apropriação comunitária das questões de saúde.
A abordagem já foi testada em 4 distritos da província de Nampula com sucesso no aumento do nível de conhecimento sobre a doença schistosomiase.
Numa segunda fase, a direção provincial de saúde de Nampula e a Malaria Consortium, com apoio do Centro das Doencas Tropicais Negligenciadas na Escola de Medicina Tropical de Liverpool estão a testar como os diálogos comunitários podem fornecer um mecanismo para facilitar iniciativas comunitárias para melhores cuidados domiciliares de pessoas que sofrem da enfermidade causada pela filaríase linfática na província de Nampula.
Entrevistamos o responsável do programa das Doenças Tropicais Negligenciadas da Província de Nampula, o Dr. Ercílio Jive, para colher a sua opinião sobre a situação destas doenças na província e a parceria com a Malaria Consortium na luta contra as doenças tropicais negligenciadas
Dr. Ercílio Salomão Jive em que consiste o seu trabalho?
Estou à 3 anos na Direcção Provincial de Saúde de Nampula, no departamento de Saúde Pública, programa de Doenças Tropicais Negligenciadas, e o meu trabalho consiste na monitoria e avaliação e intervenções comunitárias para a prevenção e controlo de doenças tropicais negligenciadas no seu todo, com maior enfoque para as doenças preveníveis por quimioterapia, nomeadamente, a Filaríase Linfática, oncocercose, Shistosomiase, Parasitoses Intestinais e Tracoma. No âmbito da parceria entre a Direcção Provincial de Saúde e a Malaria Consortium sou o ponto focal do projecto dos diálogos comunitários sobre Filaríase, uma forma de continuação do projecto dos diálogos comunitários sobre Schistosomiase (ou bilharziose) que tiveram o seu término em Março de 2016.
Quais são os principais desafios no programa de Doenças Tropicais?
Até 2020, temos metas especificas para controlar as doenças, até eliminar algumas tal como a filaríase linfática e tracoma. Como desafios para o alcance desses objectivos temos:
• Alcançar maior cobertura populacional nas campanhas de quimioterapia preventiva;
• Buscar fundos e apoio para o controlo das outras Doenças Tropicais que não são preveníveis por quimioterapia, visto que são 17 doenças no total e até agora apenas 4 destas tem um financiamento directo;
• Intensificar as medidas de sensibilização e mobilização social para que todas comunidades rurais tenham melhor entendimento das Doenças Tropicais, através de spots radiofónicos, palestras, debates, diálogos comunitários, maior distribuição de material informativo e educativo;
• Estender o projecto de diálogos para prevenção de Filaríase linfática e Shistosomiases para todos distritos da província e se possível a inclusão de outras doenças tropicais negligenciadas;
Acreditamos muito no potencial da abordagem de dialogo comunitário para melhorar a participação das comunidades nos esforços de prevenção e controlo das doenças; precisamos de mais apoio e fundos para abranger mais distritos com treino de facilitadores comunitários que poderão contribuir na intensificação da mobilização social e disseminação de informação sobre as doenças, como se previnem e como se tratam.
O que se espera realizar com o projecto diálogos comunitários sobre Filaríase Linfática?
Este ano a província realizou uma campanha de tratamento massivo de Filaríase Linfática nos 23 distritos endémicos, tendo sido tratados mais de 3 milhões de habitantes. Para o tratamento dos casos de hidrocele (complicação causada pela filaríase linfática) são realizadas cirurgias em 7 blocos operatórios da província com apoio financeiro da Universidade de Liverpool (Filarial Programmes Support Unit).
O projecto de diálogos comunitários complementa esses esforços e visa testar uma abordagem para melhorar a cobertura terapêutica das campanhas de quimioterapia preventiva contra a filaríase linfática bem como a identificação de pacientes com condições cronicas causadas pela filaríase linfática. A participação comunitária pode ajudar os doentes para aliviar o sofrimento e, possivelmente estigma, e apoiar aqueles com condições associadas, ao longo da vida. No entanto, não há ainda um mecanismo sistemático em Moçambique para identificar e fornecer assistência adequada aos pacientes, tendo em conta o papel do sistema de saúde comunitária. Este aspecto, requer identificação de soluções viáveis, duradouras e acessíveis ao nível comunitário que o Ministério da Saúde poderá implementar de forma sustentável.
O memorando de entendimento entre a Direcção Provincial de Saúde de Nampula e a Malaria Consortium ira operacionalizar os diálogos comunitários sobre Filaríase Linfática, representando um compromisso em apoiar com determinação o Ministério de Saúde nos esforços de combate as doenças tropicais transmissíveis. As lições tiradas desse projecto irão contribuir a desenvolver intervenções
Os diálogos comunitários servem para preencher lacunas de informação sobre saúde entre os membros da comunidade, identificando problemas e ajudando as comunidades a tomar decisões colectivas para práticas de melhoria da saúde que contribuem para a formação de novos hábitos, particularmente em relação à procura de cuidados oportunos, e deste modo contribuir para alcance dos objectivos traçados no Plano de desenvolvimento económico-social da província.