Em 3 de novembro de 2016, o Presidente da Republica de Moçambique, o Filipe Jacinto Nyusi, lançou a maior distribuição de redes mosquiteiras. No total, mais de 13 milhões de redes mosquiteiras tratadas com insecticida de longa duração (REMILD) serão distribuídas em todo o país – um importante passo para reduzir o peso da malária.
Muitos moçambicanos continuam a adoecer ou a morrer de malária. Em 2014, mais de cinco milhões de casos de malaria foram diagnosticados, levando a mais de 3000 mortes.
A Malaria Consortium tem apoiado a implementação desta distribuição de redes na província mais populosa do país, Nampula, localizada no norte do país, oferecendo REMILDs para proteger mais de cinco milhões de pessoas.
Falamos com algumas das pessoas envolvidas nessa primeira fase da distribuição para descobrir como o programa estava sendo recebido pelas comunidades locais.
Azélio Fulede Médico Chefe Distrital na Ilha de Moçambique
‘’A situação de saúde no nosso distrito já foi muito crítica devido ao mau entendimento das comunidades no uso das redes mosquiteiras. Os maiores desafios sempre foram o uso de redes na pesca e os tabus como que a rede provoca calor ou que ela se parece com caixão. No entanto, componente de mobilização social através dos Líderes comunitários, activistas, voluntários e a rádio comunitária foi muito crucial para a mudança de comportamento.
A situação que agora se verifica é diferente, pois há uma ligeira redução dos casos de malária e isto demostra que as pessoas para além de estarem cientes do uso da rede mosquiteira elas fazem o seu uso, pois nas visitas às comunidades verificámos famílias que estão a usar as redes nas suas camas ou na varanda onde quer que ela durma. Aquelas não sabem usar fazemos a demostração ou mesmo ajudamos a montar. Estas são as grandes mudanças positivas que verificamos.
As mensagens continuam a ser difundidas no seio das comunidades e esperamos que os casos continuem a reduzir, pois nosso objectivo é eliminar a doença. ’’
Emília Corela Técnica Administrativa na DPS de Nampula
Foi muito boa a experiencia que tive como uma das supervisoras provinciais nesta campanha.
Há uma mudança de comportamento por parte das comunidades, pois, á possível observar redes mosquiteiras expostas a sombra, penduradas nas varandas e nas ’quitantas’o que antes não era possível ver. Este resultado, tem sido possível atingir, graças a um conjunto de actividades que a DPS tem vindo a fazer como advocacia, mobilização, sensibilização, palestras nas escolas e trabalho em equipa com a Administração, DPS, DDS, líderes comunitários, activistas e voluntários.
Eu pessoalmente, durante essa campanha, Também ganhei mais experiencia, perdi a timidez, aprendi mais a interagir com as pessoas e conheci gente nova.
Naré Luis, como ponto focal de malária, Distrito de Eráti
Esta campanha de distribuição de redes mosquiteiras foi grande desafio para nós, pois foi primeira vez que abrangemos todo o distrito. Mas foi possível atingir uma meta de 95% de cobertura dando mais acessibilidade e mais mecanismos do uso correcto da rede.
A malária é um grande problema de saúde pública e existe no nosso distrito. Antes desta campanha, o índice de positividade era bastante alto, era normal em cada 100 pacientes testados encontrar 60 positivos de malária, mais do que metade, o que não deveria acontecer. Embora ainda sem uma avaliação profunda, é já possível notar que aos poucos os casos de malária vão reduzindo. Esta é uma das fases mais importantes do processo, pois para manter os casos a reduzir estamos, junto com os APEs, líderes comunitários, e a rádio comunitária, que também jogam um papel crucial na sensibilização, a sensibilizar as comunidades para que as redes sejam usadas com fins de protecção contra o mosquito que provoca a malária. Felizmente a comunidade está a acatar a informação porque nas visitas que realizamos, até ao momento não encontramos algo contrário ao uso o que nos deixa satisfeitos como instituição.
Francisco Eduardo APE da comunidade de Mucuegera, o distrito de Erati
80% das minhas actividades são dedicadas a actividades de promoção de saúde nas comunidades como sensibilização e palestras para a prevenção de doenças como a cólera, diarreias, malária e outras doenças que afectam a comunidade. Os 20% do meu tempo dedico-me as actividades de tratamento em casa e nas visitas domiciliares.
Esta campanha foi muito boa porque pela primeira vez abrangeu a nossa comunidade. A fase de registo dos agregados familiares foi mais desafiante porque este registo era posteriormente seguido duma palestra sobre o uso correcto da rede mosquiteira, mas conseguimos junto com os líderes comunitários e as pessoas agora estão cientes da importância das redes. Nas visitas que fazemos as comunidades sempre verificamos que as pessoas penduram nas ’quitantas’ e dormem dentro delas.
Outra mudança que se verifica, existindo o rio Lúrio aqui por perto, é que as pessoas já não usam a rede para a pesca como faziam antes, porque junto com voluntários e autoridades do bairro fazemos trabalho de fiscalização e não tem sido encontrado ninguém a pescar e isto é muito positivo.
Na época chuvosa do ano passado e dos anos anteriores era normal diagnosticar mais de 100 pacientes com malária só em um mês, mas diagnosticamos só 39 o que mostra uma grande redução dos casos de malária.
Marcelino João, Médico Chefe do distrito de Nacala Porto
Investir em rede mosquiteira é garantir vida longa!
O nosso distrito localiza-se na zona costeira do país e por isso existem alguns desafios que nos afligiam antes desta campanha de distribuição de redes mosquiteiras. Em nossas actividades de visitas às comunidades era notório verificar algumas vezes pessoas a usarem a rede para a pesca.
A Malária Consortium tem formado associações, estruturas comunitárias e APEs ao nível da comunidade que junto com a DDS fazem o trabalho de mobilização nas comunidades onde as sensibilizam na mudança de comportamento, como estender, pendurar, lavar e conservar a rede. Estas mensagens tem sido reforçadas não só com estes, mas também com os meios de comunicação como a rádio e a televisão e de forma intensiva durante esta campanha. Com efeito, até ao momento, temos registado neste período chuvoso, do ano em curso a diminuição de casos de malaria notificados.
Sentimo-nos mais satisfeitos com estes resultados, pois cremos que a vida irá melhorar no distrito.
Vamos continuar a trabalhar neste conjunto de actividades, com maior destaque para a realização de encontros permanentes com os líderes comunitários locais e divulgação de actividades desenvolvidas pelo sector de saúde.
Marcelino de Melo, Ponto focal para a área de Malária na Direcçao Provincial de Nampula
Nesta campanha de distribuição de redes mosquiteiras, foram grandes as melhorias organizacionais que se produziram ao nível financeiro, administrativo e principalmente técnico. Pela primeira vez conseguimos abranger todos os distritos da província o que antes nunca havia acontecido e como resultado desta acção conseguimos alcançar 98% em da meta prevista.
Contudo, neste momento, estamos reforçando a comunicação via rádio, televisão, cartazes e panfletos para que as pessoas possam mudar de forma completa o comportamento. A nossa esperança é que 100% da população use a rede. No momento estamos a trabalhar e esperamos atingir todo o distrito.
Essa actividade faz parte de uma iniciativa nacional liderada pelo Ministério da Saúde com apoio do Projecto de Prevenção e Controlo da Malária, um projecto financiado pelo Fundo Mundial de Luta contra a SIDA, Tuberculose e Malária e implementado pela World Vision como Parceiro principal, e com Malária Consortium, Food for the Hungry (FH) e Foundation for Community Development (FDC).